quinta-feira, 14 de março de 2013

Minha Avó Cecília.

Não consigo lembrar da primeira imagem de minha avó, no entanto, tenho inúmeras lembranças suas. Uma mulher de personalidade forte, decidida e disposta a comprar uma briga. Uma mulher altiva, de temperamento por vezes agressivo e até bruta em palavras e ações. De voz rouca e grave, de olhos pequenos e puxados tal como é quase todo paraense com origens indígenas. Seus cabelos extremamente liso e preto, sempre amarrado em forma de coque no alto da cabeça que com o passar dos anos foi sendo pintado de branco pelo próprio tempo. Sua pele lisa e morena "cor de jambo" como ela mesma se descrevia e que a idade já não mais escondia a flacidez dos anos vividos, porém, sua maior característica era a ausência de seus dentes, mas justiça seja feita, existia um, um único dente que a acompanhava escondidamente no lado direito de sua boca que lhe ajudava nas horas mais difíceis durante a alimentação. Como boa paraense, minha avó não conseguia viver sem seu querido pretinho - o açaí - era religiosa em tomar no mínimo meio litro por dia e se deixasse a noite também. Gostava muito de comer frango cozido com quiabo e maxixe e eu nunca entendi esse gosto estranho pra não dizer horrível, já que nunca tive coragem de degustar. A sua moda era sempre a mesma, o mesmo modelo de saia, o mesmo modelo de blusa, o mesmo modelo de sapato, apenas mudavam as estampas porque até a costureira ela fazia questão de ser a mesma, mas tenho que admitir que minha vó sempre buscou se rodear do bom e do melhor, suas fazendas (como ela chamava os seus tecidos de roupas) eram de excelente qualidade, ao meu ver vovó apenas pecava em suas colonias que costumava comprar nos catálagos da Avon, suas fragrâncias preferidas eram o famosíssimo Toque de Amor, Charísma e não tão conhecido Blue Lotus sempre que sinto o cheiro de um ou de outro inevitávelmente lembro de minha avó com seu sorriso de bebê, digo com seu sorriso careca.  É bem verdade que em minhas lembranças recordo vovó escrevendo, rabiscando, buscando inspiração em qualquer coisa para se deleitar em poemas, mensagens ou músicas de sua autoria. Em seus oitenta e um anos vividos em família, Cecília escreveu muitas histórias e estórias, lançou pequenos livretos e sempre divulgou seu trabalho nas igrejas evangélicas em Belém, em Curuçá, em Marapanim, em Castanhal e em outros lugares do Pará. É assim que lembro de minha avó materna Cecília Macêdo da Rocha.Vovó nasceu no final da segunda década do século XX. Segundo suas histórias, ela nasceu no dia 07 de Janeiro de 1928, mas como o registro naquela época era coisa de poucos, assim que nasceu na pequena cidade de Curuçá que fica localizada ao nordeste do Estado do Pará, ela foi registrada mais de um ano depois quando ganhou sua certidão de nascimento onde constava como data de seu natalício o dia 25 de Janeiro de 1927. Devido a essa confusão de datas, em minha memória lembro que minha avó acabava comemorando aniversário em dois dias do primeiro mês do ano. Aqui, já era a amostra que minha avó não seria apenas uma, ela teria ainda muito a realizar.